2019 — Melhores do ano

João Pinheiro da Silva
7 min readJan 1, 2020

Como já é de praxe (duas vezes seguidas chega para estabelecer uma tradição?), deixo aqui os melhores livros que li este ano:

  • Watchmen — Allan Moore/Dave Gibbons: uma obra-prima inigualável e que parece crescer a cada tentativa pueril de a adaptar (ou, como desejou de forma quase fofa Damon Lindelof, superar).
  • O Idiota — Dostoievski: Se o “Grande Inquisidor” tivesse 600 páginas… Talvez o melhor romance que li este ano e é, sem dúvida, a verdadeira obra-prima de Dostoievski.
  • O Idiota — André Diniz: Diniz conseguiu o impossível: fazer jus a Dostoievski em BD.
  • Memórias do Subterrâneo — Dostoievski: Se o conhecimento vem com o assombro, como dizia Aristóteles, Dostoievski ensinou-me muita coisa. E talvez só o assombro nos pode salvar do Palácio de Cristal.
  • As Religiões Políticas — Eric Voegelin: Infelizmente, um dos únicos livros de Voegelin traduzidos em Portugal e que, de forma quase fugidia (até por causa das circunstâncias em que foi escrito), deixa anunciar aquilo que será o grandioso Ordem e História.
  • A História de um Sonho — Arthur Schnitzler: Se Dr. Freud escrevesse um romance… O único livro que conheço que, apesar de brilhante, é pior que o filme. Mas com Kubrick nem dá para competir…
  • O Grande Debate -Yuval Levin: Um belo resumo das ideias que pautam o debate político nos países civilizados e que é muito bem complementado pelo livro:
  • Edmund Burke: A Virtude Da Consistência — João Pereira Coutinho: um ensaio elegante sobre o impasse Burkeano e a consistência silenciosa que sempre acompanhou o Irlandês.
  • Fausto — Goethe: o espírito da modernidade (e de cada um de nós) em poesia.
  • Italo Calvino — As cidades Invisíveis: o sonho que sempre sonhei sonhar. Análise alargada aqui.
  • The Waste Land — T.S. Elliot: As palavras de um profeta que, na verdade, ficaram longe de se cumprir plenamente no seu tempo.
  • Four Quartets— T.S. Elliot: Belíssimo. A experiencial existencial cristã em todo o seu vigor.
  • Ensaios de Doutrina Crítica — T. S. Eliot: O dinamismo da verdadeira tradição, sem rodeios e idealizações.
  • Quincas Borba — Machado de Assis: Sempre quis chamar João Silva ao meu cão. Mudei de ideias.
  • O Alienista e Outros Contos — Machado de Assis: Sem dúvida alguma, o maior contista (e, quiçá, escritor) da língua portuguesa. (Deve sair nos próximos tempos um ensaio meu sobre Machado e Dostoievski em que menciono vários dos seus contos. Deixarei aqui o link).
  • O Triunfo do Ocidente — Rodney Stark: O desmontar de algumas das teses favoritas dos IYI.
  • Personas Sexuais — Camille Paglia: Se não foi o melhor livro que li este ano, foi, sem dúvida, o mais surpreendente. Um trabalho de (imenso!) fôlego e que nos deixa sem fôlego algum. Uma escrita eletrizante e hipnótica que traz consigo milhares de insights absolutamente geniais.
  • Vampes e Vadias — Camille Paglia: Paglia tornou-se uma das minhas musas e fez-me descobrir um dos maiores prazeres intelectuais: discordar profundamente de alguém com total reverência por essa pessoa.
  • O Sagrado e o Profano — Mircea Eliade: Um livro (e um autor) que mudou completamente a minha forma de ver o mundo e que tenta resgatar a experiência fundamental do humano.
  • A Grande Separação — Mark Lilla: Um belo livro de Lilla que é o complemento perfeito tanto à Mente Naufragada quanto à Mente Imprudente.
  • Submissão — Houllebeqc: Segundo o Martim Vasques, Submissão é o livro da década. Rezemos para que o Martim não esteja certo.
  • Lanzarote — Houllebeqc: Nada melhor para acompanhar esta “passagem” de década do que perceber que o desencanto que inaugurou o século permanece.
  • Man’s Search for Meaning — Viktor Frankl: A integridade moral e a busca de sentido na face do próprio Mal.
  • Gogol — Contos de São Petersburgo: Seis contos absolutamente deliciosos, geniais e, não estava à espera, hilariantes.
  • Ovídio — Poemas do Desterro: Parece que Ovídio teve direito à sua própria Waste Land.
  • Poesia: Antologia Mínima — Fernando Pessoa: sem dúvida o maior poeta da língua portuguesa. Só é pena esta edição que tem tanto espaço em branco quanto texto.
  • Gaguin: The Other World — Fabrizio Dori: uma belíssima BD que me levou de volta à infância.
  • The Soul of the World — Roger Scruton: um dos grandes livros de filosofia da década e a obra derradeira de Scruton.
  • Eneida — Virgílio: um dos clássicos dos clássicos e que começou na maior das belezas o meu caminho rumo à Divina Comédia.
  • Obras Completas — Sá de Miranda: a minha grande descoberta do ano que resultou num dos ensaios de que mais me orgulho: Sá de Miranda: Uma Filosofia do Desconcerto (deixo aqui o link assim que for publicado).
  • Al Qaeda and What It Means to Be Modern — John Gray: uma hidden gem do grande John Gray que prenuncia muitas das suas obras posteriores.
  • Six Maladies of the Contemporary Spirit — Constantin Noica: talvez o melhor livro de filosofia que li este ano e que continua a ser, infelizmente, ignorado neste lado da Europa.
  • Dominion — Tom Holland: Tom Holland atinge a plena maturidade e continua a afirmar-se como muito mais do que um mero “pop historian”, desta vez, narrando como poucos as consequências do mais decisivo dos eventos: a crucificação (mais um ensaio que será linkado aqui assim que sair).
  • Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton — Platão: é uma vergonha, enquanto estudante de filosofia, só ter lido estes três diálogos este ano.
  • O Sofista — Platão: a melhor dor de cabeça da minha vida.
  • Ética a Nicómaco — Aristóteles: poucas coisas são comparáveis ao prazer de sentir que estava sentado no colo do Filósofo (escrevi um paper sobre a eudamonia Aristotélica que também será aqui linkado assim que for publicado).
  • Viagens da Minha Terra — Almeida Garret: a crónica do infeliz desastre que foi — e é — o liberalismo português.
  • Gargântua — Rabelais: quem diria que tinha de voltar a 1534 para soltar umas boas risadas.
  • Anorexia e Desejo Mimético — René Girard: um belo ensaio que consolida o estatuto de Girard como o grande hedgehog da segunda metade do século XX.
  • Poemas Escolhidos das Irmãs Bronte: verdadeiro sentimento numa era de sentimentalismo.
  • The Complete Short Stories of Saki — Saki: Se Machado de Assis ou Tchekov tivessem nascido em Inglaterra…
  • Silence — Shusaku Endo: um livro tão mas tão bom que só Scorsese conseguiria melhorar.
  • The Sun Also Rises — Hemingway: o resumo da minha opinião sobre a questão das touradas (e um belo livro para ler a par de Waste Land — e Don Juan).
  • Maps Of Meaning — Jordan Peterson: mais um livro de imenso fôlego que devia ser lido por todos aqueles que menosprezam o Dr. Peterson. Milhares de insights poderosíssimo que consolidaram a minha profunda e inquantificável gratidão pelo Dr. Peterson.
  • História de Portugal — Rui Ramos: sabe-se que um livro de história é bom quando desagrada as cartilhas ideológicas de ambos os lados.
  • O Homem Revoltado — Camus: sempre tive um enorme apreço por Camus mas só com esta obra percebi que, para além de um grande escritor, Camus é um enorme filósofo.
  • Inferno e Purgatório — Dante: uma obra que passei a reverenciar e que já mudou a minha vida. Se há algo que todos temos de ler na vida, é a Divina Comédia. E nada como entrar em 2020 com Dante, desta vez, no Paraíso.

Menções honrosas: Goethe, O Eterno Amador — João Barrento; How to Be a Christian: Reflections & Essays — C. S. Lewis; A Civilização do Espectáculo e O Apelo da Tribo — Mario Vargas Llosa (peço desculpa aos ofendidos mas o Vargas Llosa ensaísta foi, sem dúvida, a minha maior desilusão do ano: demasiado pulido, oco, superficial e limitado por um liberalismo que, sem o próprio reparar, o torna tão ideológico quanto alguns dos seus mais ferozes inimigos); Uma Leitura da Filosofia Contemporânea — Sofia Miguens; Sá de Miranda, um Poeta no Século XX — Marcia Arruda Franco; O Conservadorismo do Futuro e Outros Ensaios — Miguel Morgado;

Aproveito para listar aqueles que foram, para mim, os melhores filmes e séries de 2019 (sem qualquer ordem, pura e simplesmente por preguiça):

Once Upon A Time In Hollywood — Quentin Tarantino

Parasite — Bong Joon-ho

Midsommar — Ari Aster

Marriage Story — Noah Baumbach

Joker — Todd Philips

AD ASTRA — James Gray

Chernobyl (minisérie) — Craig Mazin (texto que escrevi sobre a série)

Doctor Sleep — Mike Flanagan

The Mule — Clint Eastwood

The Professor and the Madman — Farhad Safinia

Rolling Thunder Revue: a Bob Dylan Story — Scorsese

A Rainy Day in New York — Woody Allen

Rocketman — Dexter Fletcher

Mindhunter (2ª Temporada) — David Fincher

Bojack Horseman (Temporada 6A) — Bob-Waksberg

Love, Death & Robots — Tim Miller

Rick and Morty (até agora) (4ª Temporada) — Justin Roiland

Apesar de ter desapontado muito #1: Watchmen — Damon Lindelof

Apesar de ter desapontado muito #2: Black Mirror (5ª Temporada) —

E termino com um filme que ainda não vi pois estou a fazer uma maratona de Scorsese antes: The Irishman. Coloco-o aqui pois sei que foi, com toda a certeza, um dos grandes filmes de 2019 e, deste modo, posso aproveitar para recomendar algumas hidden gems da cinematografia do baixinho italiano:
Alice Doesn’t Live Here Anymore, The King of Comedy, a grande surpresa After Hours e o infelizmente tão esquecido The Age of Innocence.

Os melhores álbuns de 2019:

Norman Fucking Rockwell — Lana Del Rey

Capitão Fausto — A Invenção do Dia Claro

Ghosteen — Nick Cave and the Bad Seeds

Jesus is King — Kanye West

Jesus Is Born — Sunday Service Choir

Igor — Tyler, The Creator

Anima — Thom Yorke

Fear Inoculum — Tool

Father of the Bride — Vampire Weekend

Western Stars — Bruce Springsteen

Let’s Rock— The Black Keys

I Am Easy to Find — The National

When We All Fall Asleep, Where Do We Go? — Billie Eilish

Não Tarda — Ganso

Two Hands — Big Thief

U.F.O.F. — Big Thief

Help Us Stranger — The Raconteurs

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