Os ‘Parágrafos Sobre Arte Conceptual’ Sol LeWitt

João Pinheiro da Silva
3 min readOct 29, 2019

Com este texto “Parágrafos sobre Arte Conceptual”, o artista Sol LeWitt (1928–2007) cunhou o termo “arte conceptual”. Isto não quer dizer que LeWitt seja o criador da arte conceptual, apenas que popularizou o termo que passaria a designar todo um movimento.

LeWitt descreve as diretrizes em forma, propósito e linguagem artística que considera necessárias para o produto artístico final. Como deixa logo claro, na arte conceptual, a ideia ou o conceito é o aspecto mais importante do trabalho. Com isto, todo o planeamento e decisões são feitos de antemão e a execução torna-se um assunto superficial. Nas palavras de LeWitt: “A ideia torna-se uma máquina que faz a arte”. O artista deve formular a sua ideia conceptual antes de criar a arte física. Todo o planeamento e decisões relativas à comunicação da ideia são feitos de antemão para liberar o trabalho da subjetividade caprichosa ou divergência da intenção. Idealmente, descreve LeWitt, a arte conceptual não é uma exploração em psicologia, filosofia ou emoção, mas sim uma comunicação singular de um conceito.

Tais ideias não precisam de ser complexas e devem ser descobertas por intuição e, por isso, a arte conceptual não é necessariamente lógica. “As ideias de sucesso têm a aparência de simplicidade porque são inevitáveis.” A lógica pode ser usada para camuflar a verdadeira intenção do artista, ou meramente para “convencer o espectador a acreditar que ele entende o trabalho, ou inferir uma situação paradoxal”.

A obra de arte só pode ser percebida depois de concluída e, uma vez dada a realidade física pelo artista, o trabalho está aberto à percepção de todos, incluindo o artista. Com isto, é, no mínimo, curioso que Lewitt diga: “Não importa se o espectador entende os conceitos do artista ao ver a arte” o que parece contrair todo o ponto da arte conceitual. Se o objetivo da arte conceptual é transmitir um ponto, não seria importante que os espectadores o entendessem?

Essa ligeira contradição é interessante pois LeWitt enfatiza que a arte conceptual bem-sucedida deve ser extremamente simples, o que fez parecer que faria arte conceptual seria voltada para uma comunicação de atenção e acessibilidade para os espectadores. Neste ponto, vale notar o que Lewitt diz no final: “essas ideias são o resultado do meu trabalho como artista e estão sujeitas a mudanças à medida que minha experiência muda”. Mais, previu a possibilidade de “haver inconsistências óbvias (que eu tentei corrigir, mas outras provavelmente passarão)” e talvez esta tenha sido uma das que passou. Creio, porém, que é um problema com o qual a arte conceptual lida até hoje: a capacidade (ou falta dela) que o espectador tem de compreender a ideia ou conceito em questão. Porém, o parágrafo final de LeWitt reconhece a subjetividade e fluidez da arte e a própria consciência de LeWitt das limitações dos seus pontos de vista.

Segundo LeWitt, a arte conceitual deve ser mentalmente interessante e, essencialmente, livre. Intuitiva para o artista, logo, livre da habilidade; e, acima de tudo, livre do que ele chama “pontapé emocional”, que o público esperava dos artistas expressionistas, inibidor da expressão do significado da ideia que em causa.

LeWitt enumera também aquilo que considera importante para uma peça de arte conceptual; todas as etapas do trabalho são importantes e podem ser de “maior interesse” do que um produto acabado — seja um rabisco, um esboço ou uma simples conversa. O tamanho da peça deve ser pensador de maneira a não ofuscar a ideia e de modo a que a compreensão da obra seja efetiva. O importante é entender que a arte conceptual é feita para envolver a mente do espectador em vez de seus olhos ou emoções.

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